A indução e o parto #2

01.12.2016

Lembro-me de estar com dores e pedir uma nova dose de epidural. Uns vinte minutos depois já me sentia melhor. Lá consegui descansar, em períodos de pequenos sonos, durante umas duas horas até que o efeito da epidural desapareceu para dar lugar às contrações que se faziam sentir.
O efeito da epidural cada vez era menor. Por volta das 7h quando vieram fazer o toque nemme disseram qual era a dilatação. Isto ainda está muito atrasado, disse-me a enfermeira antes de me administrar uma nova dose de epidural.
Já tínhamos perdido as nossas apostas na hora de nascimento, isso era mais que certo. E depois de quase 20h depois de ter iniciado a indução, de contrações constantes e de a epidural já não fazer efeito já só queria que aquilo terminasse.
Não sei bem o que aconteceu entre as 7h e as 9h mas do "isto ainda está muito atrasado" para o "Já está quase, vamos preparar a equipa". Alívio, ansiedade e muitos nervos. Estava quase mas ainda faltava tudo. Eu que nunca tinha tido visto o momento do parto com medo, naquele momento, cansada, estava com medo. O medo não era do que fosse doer ou fique ia acontecer. Tinha medo de já não ter força para o fazer.
Não tenho bem noção das horas que eram quando a equipa entrou na sala de partos mas penso que foi pouco antes das 10h30m.
A partir daqui foi tudo rapidamente lento. Pareceu rápido e pelas horas até sei que foi. Mas os momentos do "puxe, faça força agora" pareceram uma eternidade. O meu excesso de peso não ajudou, bem pelo contrário. Duas enfermeiras tiveram que carregar com bastante força na minha barriga para ajudar. Eu fazia força, o Martim começava a sair mas quando parava parecia que volta a andar para trás. Não sei se é supostos bebés usarem a força deles para ajudar no parto, mas se assim é talvez a doença do Martim já estivesse a interferir.
10h52m, o Martim nasceu finalmente. Que alívio. Com o entusiasmo quase que nem me apercebi do choro fraquinho que ele deu. Só me apercebi que de repente estava a levá-lo para a incubadora e não era para o vestir. Chamem rápido a Dra. que está na neo. Foi neste momento que o meu coração começou a encolher. O choro débil não se ouvia. Nas mãos das enfermeiras estavam tubos que do passado uns minutos percebi que estavam a servir para reanimar o Martim. O coração custou a arrancar. Foi o que nos disseram mais tarde. Custou mas arrancou. Respirei fundo mas não sabia se era de alívio, de alegria, de aflição.
Ele tinha que ir para a neonatologia para ser acompanhado nas primeiras 24h. Nem imaginávamos que essas 24h se transformariam em 487h (e isto só no primeiro hospital).
Não usou a roupa que tinha escolhido com toda a antecedência exigida e com todo o carinho e amor. Uma enfermeira enrolou-o num lençol, colocou-lhe o gorro dele e deixou o Joel tirar uma fotografia. Mostrou-mo rapidamente e levou-o.
Neste momento estava sem forças. Não sei se era o cansaço que começava a fazer-se sentir depois da agitação ou se era o coração tão apertado que me tirava todas as forças. Esta foi a minha primeira preocupação de mãe.
O Martim foi para a neonatologia e eu, depois de uma hora na sala de recobro, subia para a obstetrícia.
Almocei, e tomei banho, mesmo sem me sentir bem o suficiente para tal.
A tarde de visitas não foi como esperava, com as imensas pessoas que queriam conhecer o Martim, pois não havia bebé para ver e conhecerem.
Ao fim da tarde, por volta das 18h, desci à neonatologia para conhecer o meu filho. Vê-lo com atenção, descobrir as suas feições, tocar nele e sentir o seu cheiro.
Foi o nosso momento. O coração antes encolhido começou a crescer um bocadinho. Não peguei nele, os fios eram muitos e o medo era algum. Só no dia seguinte é que perguntaram se queria pegar nele. Nesse momento o coração voltou ao tamanho dele. Sentia-me completa.
Num instante chegou a hora de jantar e eu tinha que subir. Ia para o meu quarto, dormir "bem" na noite que era suposto passar acordada a namorar o meu filho.
No meu quarto havia mães duas mães. Nenhuma de nós tinha o filho ao nosso lado. Tornamo-nos companheiras de visita à neonatologia.
O cansaço juntou-se ao sono e foi mais fácil adormecer naquele quarto que para mim estava vazio.

- A Mãe

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